Conectivos Críticos

Nunca juntos mas ao mesmo tempo

Goethe-Institut Salvador | 23/8 | 17h | Wagner Schwartz (SP)

Foto por Mario Miranda Filho

NUNCA JUNTOS MAS AO MESMO TEMPO
Wagner Schwartz (SP)

Onde: Biblioteca do Goethe-Institut Salvador
Quando: 23 de agosto (qui), 17h
Classificação indicativa: Livre
Valor do exemplar: R$ 40 (apenas em dinheiro)

A 12ª edição do IC Encontro de Artes acolhe o lançamento do livro “Nunca juntos mas ao mesmo tempo” (Editora Nós), romance de estreia do coreógrafo e performer Wagner Schwartz, editado simultaneamente no Brasil e na França.

Impossível deixar de lembrar que Wagner é o artista da performance “La Bête”, feita no Museu de Arte Moderna de São Paulo em setembro de 2017, onde interagia nu com o público. O que era, e deveria ser sempre, uma performance lúdica do corpo, que estabelecia um diálogo com a obra de Lygia Clark, “Bichos”, sofreu um colérico ataque, de tintas fascistas, de setores obscuros da sociedade brasileira.

Feito este parêntese biográfico, há algumas perguntas que um escritor com ambição mínima deve se fazer hoje: qual é a forma ficcional que pode representar a simultaneidade gerada pela globalização? E que é amplificada pela vertiginosa velocidade da era das redes sociais? Ou, ainda, como aplicativos de celular e seus algoritmos entram na fatura de um romance?

Em “Nunca juntos mas ao mesmo tempo”, Wagner procura dar respostas a estas questões literárias centrais hoje. O autor estabelece a sua (e nossa) delicada relação com Adeline através de uma escrita bilíngue, já que “…o texto foi pensado em português. O francês apareceu como um equivalente digital, nascido dos aplicativos de tradução”.

Ao famigerado mundo moderno dos aplicativos de celular e da velocidade das redes sociais, Wagner contrapõe vinhetas fugidias, instantâneos poéticos da vida de Adeline, das suas leituras. Ou seriam quadros, já que a plasticidade de algumas cenas assim o sugere? Como o autor sabe que “o tempo nas ruas desorienta o tempo nos livros”, por vezes se aproxima de Adeline em silêncio, à distância. Na aguda afirmação do escritor e ensaísta Anthony Burgess, o modernismo, em especial o anglo-saxônico, colocou enfim a pessoa comum no centro dos romances. Cerca de um século depois, com as conquistas modernistas já incorporadas ao entretecer literário, Wagner Schwartz sabe que as inquietações formais se movem agora em outras direções, às quais deve apresentar respostas formais inauditas.

“Nunca juntos mas ao mesmo tempo” é uma bela experiência de quietude, com claros ecos ‘clariceanos’, especialmente de “A Hora da Estrela”, em sua busca tartamuda da epifania. A história de Adeline se refugia em sua própria língua, em mais de um sentido. Ao fim do romance, concordamos com a afirmação do autor: “A (história) que eu construo com você se escreve de outras formas. Não quero que meu futuro seja o resumo daquilo que eu tenha lido”.